Se vocês não perceberam ainda, tenho um "precipício" por gatos... Essa admiração é recente, dois anos, quando a minha Avelã me adotou. Quando criança, ao ir para os sítios (que chique) da minha família, me transformava na Felícia dos animais (pobrezinhos), mas nunca tinha tido nenhum em casa... ao contrário dos cães, que sempre estiveram presentes, desde bebê.
Bem, minha família sempre teve uma idéia a respeito de gatos, todas essas que rolam por aí até hoje. Então, sempre preferiam cães, machos, porque a fêmea procriava. Tudo bem, tenho 35 anos e agora as coisas são muito melhores, evoluídas: ainda se tem algum preconceito em relação a gatos: "eles são traiçoeiros, não se importam com o dono, pois são da casa, trazem azar", mas as coisas estão mudando, e pra melhor! Muitas famílias, devido ao estilo que levam, estão observando as características felinas mais a fundo e descobrindo os ganhos em ter um gatinho em casa.
Quando finalmente fui para a MINHA casa, depois de ter a minha Meg, uma boxer que sonhei durante sete anos, pedi à minha Vet, a Rosaura, um gatinho. Se ela me ajudava a encontrar um abandonado por aí e se ela me dava dicas de como cuidar, porque não sabia absolutamente nada.
Foi só falar que o universo conspirou a favor e me trouxe a Avelã (batizada carinhosamente pela Rosaura). Ela foi se chegando, sozinha, lá em casa, com um objetivo traçado: me conquistar. Chamei a Rosângela, minha amiga, para que ela fizesse o primeiro contato e me orientasse (não tinha idéia como chegar perto!!! hehehehehe). Em menos de um mês, ela já tinha tomado a vacina, sido castrada, ganho caminha e toda a casa adptada a ela. Isso foi em abr de 2008.
Parecia que ela me conhecia há muito tempo. Sempre ia até o portão se despedir de mim na saída para o trabalho e me esperava tbém na volta com um "boas-vindas", além de me acordar às 6h todos os dias para comer e ir para a rua.
Era a babá perfeita para a minha Meg e depois para o Thor, o viralatês de 35kg (única gata que ele tolerou até hoje, tbém porque tinha 6meses).
Infelizmente, em 31/12/2008 pela manhã ela foi atropelada em frente a minha casa. Estava caçando um passarinho e saiu de trás de uma moita na calçada em frente e não deu tempo do carro parar. Uma fatalidade, porque a motorista é uma "ativista" pela causa dos animais. Chamei a Vet, mas não teve o que se fazer para salvá-la... Nunca pensei, em minha inexperiência felina, que era comum eles serem atropelados (o mito das sete vidas), mas aconteceu. Fiquei chocada e jurei não ter mais felinos pela dificuldade em mantê-los a salvo. Recuperei-me do trauma no dia 08/03/2009 (história já está no blog) e de lá pra cá adotei duas gatas e já passaram pelos meus cuidados outros tantos. A única coisa que não consigo é deixá-los ir pra rua, todos, sem exceção ficam dentro de casa, que é o melhor lugar pra eles, sem dúvida.
Bem, agora que já terminei essa minha longa história de iniciação, segue a crônica sobre gatos que é muito interessante, verdadeira, bem esclarecedora! Espero que todos gostem!!!
Ah, a foto é da minha Avelã, a primogênita. Ela assistiu quieta a um vídeo de adestramento de rottweilers, apoiada no braço do sofá, uma graça!!!!
ODE AO GATO, por Artur da Távola, pseudônimo de Paulo Alberto Moretzsonh Monteiro de Barros.
Bichos polêmicos sem o querer, porque sábios, mas inquietantes, talvez por isso.Nada é mais incômodo que o silencioso bastar-se dos gatos. O só pedir a quem amam. O só amar a quem os merece.O homem quer o bicho espojado, submisso, cheio de súplica, temor, reverência, obediência. O gato não satisfaz as necessidades doentias do amor. Só as saudáveis.Lembrei, então, de dizer, dos gatos, o que a observação de alguns anos me deu. Quem sabe, talvez, ocorra o milagre de iluminar um coração a eles fechado? Quem sabe, entendendo-os melhor, estabelece-se um grau de compreensão, uma possibilidade de luz e vida onde há ódio e temor? Quem sabe São Francisco de Assis não está por trás do Mago Merlin, soprando-me o artigo?Já viu gato amestrado, de chapeuzinho ridículo, obedecendo às ordens de um pilantra que vive às custas dele? Não! Até o bondoso elefante veste saiote e dança a valsa no circo. O leal cachorro no fundo compreende as agruras do dono e faz a gentileza de ganhar a vida por ele. O leão e o tigre se amesquinham na jaula. Gato não. Ele só aceita uma relação de independência e afeto. E como não cede ao homem, mesmo quando dele dependente, é chamado de arrogante, egoísta, safado, espertalhão ou falso."Falso", porque não aceita a nossa falsidade com ele e só admite afeto com troca e respeito pela individualidade. O gato não gosta de alguém porque precisa gostar para se sentir melhor. Ele gosta pelo amor que lhe é próprio, que é dele e ele o dá se quiser. O gato devolve ao homem a exata medida da relação que dele parte. Sábio, é espelho. O gato é zen. O gato é Tao. Ele conhece o segredo da não-ação que não é inação. Nada pede a quem não o quer. Exigente com quem ama, mas só depois de muito certificar-se. Não pede amor, mas se lhe dá, então ele exige.Sim, o gato não pede amor. Nem depende dele. Mas, quando o sente, é capaz de amar muito. Discretamente, porém sem derramar-se. O gato é um italiano educado na Inglaterra. Sente como um italiano mas se comporta como um lorde inglês.Quem não se relaciona bem com o próprio inconsciente não transa o gato.. Ele aparece, então, como ameaça, porque representa essa relação precária do homem com o (próprio) mistério. O gato não se relaciona com a aparência do homem. Ele vê além, por dentro e pelo avesso. Relaciona-se com a essência. Se o gesto de carinho é medroso ou substitui inaceitáveis (mas existentes) impulsos secretos de agressão, o gato sabe.. E se defende do afago. A relação dele é com o que está oculto, guardado e nem nós queremos, sabemos ou podemos ver. Por isso, quando surge nele um ato de entrega, de subida no colo ou manifestação de afeto, é algo muito verdadeiro, que não pode ser desdenhado. É um gesto de confiança que honra quem o recebe, pois significa um julgamento.O homem não sabe ver o gato, mas o gato sabe ver o homem. Se há desarmonia real ou latente, o gato sente. Se há solidão, ele sabe e atenua como pode (ele que enfrenta a própria solidão de maneira muito mais valente que nós). Se há pessoas agressivas em torno ou carregadas de maus fluidos, ele se afasta. Nada diz, não reclama. Afasta-se. Quem não o sabe "ler" pensa que "ele não está ali". Presente ou ausente, ele ensina e manifesta algo. Perto ou longe, olhando ou fingindo não ver, ele está comunicando códigos que nem sempre (ou quase nunca) sabemos traduzir.O gato vê mais e vê dentro e além de nós. Relaciona-se com fluidos, auras, fantasmas amigos e opressores. O gato é médium, bruxo, alquimista e parapsicólogo. É uma chance de meditação permanente a nosso lado, a ensinar paciência, atenção, silêncio e mistério. O gato é um monge portátil à disposição de quem o saiba perceber.Monge, sim, refinado, silencioso, meditativo e sábio monge, a nos devolver as perguntas medrosas esperando que encontremos o caminho na sua busca, em vez de o querer preparado, já conhecido e trilhado. O gato sempre responde com uma nova questão, remetendo-nos à pesquisa permanente do real, à busca incessante, à certeza de que cada segundo contém a possibilidade de criatividade e de novas inter-relações, infinitas, entre as coisas. O gato é uma lição diária de afeto verdadeiro e fiel. Suas manifestações são íntimas e profundas. Exigem recolhimento, entrega, atenção. Desatentos não agradam os gatos. Bulhosos os irritam. Tudo o que precise de promoção ou explicação, quer afirmação. Vive do verdadeiro e não se ilude com aparências. Ninguém em toda natureza aprendeu a bastar-se (até na higiene) a si mesmo como o gato!Lição de sono e de musculação, o gato nos ensina todas as posições de respiração ioga. Ensina a dormir com entrega total e diluição recuperante no Cosmos. Ensina a espreguiçar-se com a massagem mais completa em todos em todos os músculos, preparando-os para a ação imediata.. Se os preparadores físicos aprendessem o aquecimento do gato, os jogadores reservas não levariam tanto tempo (quase 15 minutos) se aquecendo para entrar em campo.O gato sai do sono para o máximo de ação, tensão e elasticidade num segundo. Conhece o desempenho preciso e milimétrico de cada parte do seu corpo, a qual ama e preserva como a um templo.Lição de saúde sexual e sensualidade. Lição de envolvimento amoroso com dedicação integral de vários dias. Lição de organização familiar e de definição de espaço próprio e território pessoal. Lição de anatomia, equilíbrio, desempenho muscular. Lição de salto. Lição de silêncio. Lição de descanso. Lição de introversão. Lição de contato com o mistério, com o escuro, com a sombra. Lição de religiosidade sem ícones.Lição de alimentação e requinte. Lição de bom gosto e senso de oportunidade. Lição de vida, enfim, a mais completa, diária, silenciosa, educada, sem cobranças, sem veemências, sem exigências.O gato é uma chance de interiorização e sabedoria posta pelo mistério à disposição do homem.