quinta-feira, 10 de maio de 2012

Percepção da violência no mundo dos rodeios

Parabéns Swami. Precisa coragem para colocar em discussão esse assunto. Como sempre, o interesse economico ditando comportamentos a uma comunidade. A maioria não para para pensar o quanto há de errado nesses eventos, vão apenas para se "divertir", sem se colocar no lugar do animal que não teve escolha para estar onde está. E assim vai passando o tempo sem nos perguntarmos nossas práticas. Agir em ...favor da vida, essa deveria ser a máxima acima de qualquer interesse economico. Mais uma vez, ações do Poder Público são importantíssimas nesses casos. O Estado é o tutor legal dos animais e temos no Brasil uma rica legislação que estabelece uma relação de respeito TAMBÉM com os animais. Um Ministério Público atuante em sua responsabilidade na proteção aos animais, com o respaldo de uma comunidade do bem, obtém a proibição desses eventos através de ações civis públicas, como vários belos exemplos no Estado de São Paulo. (Milene Baldez)



http://www.jornalagora.com.br/site/content/noticias/detalhe.php?e=5&n=27936

Percepção da violência no mundo dos rodeios



Swami Fonseca*
Em todo o País os rodeios têm criado polêmicas aprofundando discussões entre os limites da cultura e dos abusos da liberdade, justamente por lidar com a percepção de violência em relação ao outro (no caso, os animais) em seus diversos níveis. De um lado, estão os seus árduos defensores que fazem parte de uma cadeia econômica de exploração animal, que vai desde os organizadores de eventos, criadores etc e que visam apenas ao lucro. Já do outro, os que contestam as provas do rodeio, pois a participação do animal se dá pela força, através do medo, dor, estresse, enfim; pelo condicionamento forçado que contrariam o seu comportamento natural, pois a tendência do animal é buscar uma saída da arena, como alternativa, já que são animais mansos.
Esses aspectos são apenas alguns que mostram que os rodeios se dão sobre algum tipo de violência contra os animais e que são consentidos pelo público como diversão e mascarados, através de uma pretensa tradição importada dos cowboys norte-americanos, no final do século retrasado. Cabe dizer que, a cultura e/ou tradição sempre legitimaram – e ainda o fazem – as mais diversas formas de crueldade nas sociedades, tidas como normais para a época. Como exemplo disso, teríamos os gladiadores de Roma, que davam um “espetáculo de sangue” levando o público ao delírio, comportamento até muito assemelhando aos rodeios quando o peão tomba e incita no público gritos e levantes. Mas hoje achamos aqueles ocorridos em Roma espetáculos horríveis.
Será que a mentalidade evoluiu? Por que a humanidade ainda precisa se alimentar de shows que envolvam algum tipo de violência alheia? Ora o mundo está cada vez mais violento e os rodeios se expandem fornecendo um quadro sintomático da banalização da violência e que muita coisa precisa ser repensada. A começar pelas crianças que assistem os rodeios e vão assimilando a cultura da violência, achando tudo normal e sem limites, onde se pode fazer tudo com os outros, não apenas com os animais.
Eis também esse chamado aos pais para educarem seus filhos com respeito ao próximo, pois está faltando mães e pais responsáveis que exerçam a sua função de construir um cidadão com princípios éticos de respeito pela vida. Já que os animais são seres “sencientes”, ou seja, que possuem consciência de si em relação ao mundo e está mais do que na hora de refletirmos sobre a nossa responsabilidade diante eles, que são considerados sujeitos de direitos, bem como a realidade que queremos através da cultura pela paz.
Por isso também a chamada ao Poder Público de exercer a sua função de fiscalizar a situação dos animais e não apoiar eventos que fazem apologia à violência, como os rodeios. Os rodeios se fantasiam de tradição importada e banalizam a violência contra os animais.

*Bióloga e professora